quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A VERDADE E A ALEGORIA – Conto Judaico












Luiz Carlos Nogueira











Certa vez a Verdade resolveu fazer umas visitas aos homens e mulheres de um povoado. Ocorre que a Verdade era despretensiosa, não era vaidosa, muito desligada das coisas materiais e por isso não se preocupou, esqueceu-se de se vestir e saiu nua, sem nenhum enfeite.

Mas quando a viram daquele jeito — davam-lhe as costas, porque ficavam envergonhados diante da Verdade, pela sua forma de se apresentar despida de qualquer coisa para cobri-la com qualquer roupagem. Pelo que se pode perceber — a verdade não era bem-vinda. Mas de qualquer modo a Verdade havia se proposto a percorrer todos os quadrantes da Terra, embora em cada lugar que chegava — a desprezavam e a rejeitavam.

Após tanto perambular, já se fazia noite — havia uma escuridão medonha, que quase ninguém enxergava nada, porém já muito desolada e triste, a Verdade acabou se encontrando com a Alegoria, que estava muito alegre e radiante, trajando-se muito bem, pois o mesmo era de um colorido muito bonito que o tornava belo.

Notando sua tristeza, a Alegoria indagou-lhe:

— Verdade, porque estás muito abatida?

—  Ora, é porque os homens me evitam muito, pois imagino que me achem feia.

— Mas o quê que você esta dizendo? Replicou-lhe a Alegoria — tenho que rir, pois não é por isso que as pessoas lhe evitam.

— Olha! Vamos fazer uma coisa. Toma, veste esta roupa que trago comigo, e depois se apresente à luz do dia, a essas mesmas pessoas que lhe evitaram e veremos o que vai acontecer.

Assim, a Verdade colocou as roupas da amiga Alegoria, que por sinal eram também coloridas como as que usava quando se encontrou com a Verdade.

Com vestido vistoso que lhe cobria, a Verdade começou a ser bem recebida em todos os lugares por onde passava.


Ora, então ficou evidente que — as pessoas não gostam de encarar a Verdade Nua — antes, preferem-na encoberta, vestida com trajes chamativos, para não dizer disfarçada.