segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O fazedor de palavras - Por Ismael Machado




Á Senhora Stella

Da longa vida, ao final...
Manoel, o poeta, virou vegetal
e se plantou nesse mesmo solo
ao qual deu vida, junto de caramujos, ipês,
insetos, jacarés, araras, jabirus e sabiás...

Ele era mesmo da feitura de Barros
e à sua terra (pó), à sua letra (sopro)
literalmente retornou...

Ou, talvez, virou passarinho,
que alça asas adredes ao vôo
que se levanta do seu ninho de letras,
de fazedor de palavras,
de horizontes e de amanheceres...

O vaso de poemas pintou a natureza viva,
o livro de versos reescreveu a vida,
o nosso tuiuiú,
do jeito mais natural,
saiu da asa
e adentrou o azul celeste...
Foi confabular com as estrelas.
Ficar encantado junto de Guimarães Rosa
e Manuel Bandeira.

Nosso passarinho-poeta emoldurava as miudezas
em palavras odoríficas,
travestidas de bichos; eram palavras fertilizadas
nos pântanos das linguagens.

Na partida, ao romper o fio poético, vi raios e trovões
rasgarem as páginas do firmamento,
enquanto o meu corpo lírico estremeceu na terra.

...os beija-flores também adormecem,
mas as suas cores permanecem na retina,
iguais às vivas letras,
perenes, imortais em toda memória...

Ismael Machado
Poeta sul-mato-grossense